segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Pacientes com DPOC podem utilizar betabloqueadores com segurança?



Muitos pacientes com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) apresentam alguma cardiopatia associada, principalmente Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) ou Doença Arterial Coronariana (DAC). Estes pacientes, em sua maioria, necessitam de tratamento com betabloqueadores (BB), porém esta classe de medicamentos é pouco prescrita por conta do receio de broncoespasmo.
O artigo Multicentric study on the beta-blocker use and relation with exacerbations in COPD, publicado na Respiratory Medicine em 2014, nos ajuda a responder esta questão.
O principal objetivo do estudo foi avaliar se o uso de BB esteve relacionado com o número de exacerbações respiratórias no último ano (considerando mais de 2) ou exacerbações severas (ES) que exigiram tratamento médico emergente.
Trata-se de um estudo transversal, realizado em 14 hospitais da Espanha no período de maio de 2012 a maio de 2013 com pacientes DPOC e com diagnóstico de ICC ou DAC com critérios para o tratamento com BB. Uma coorte concomitante foi realizada a fim de comparar o uso de BB em pacientes DPOC e não-DPOC.
Somente 58% dos pacientes DPOC (n= 256) faziam uso de BB, ao passo que 97% dos pacientes não-DPOC (n=101) utilizavam. O BB mais utilizado no grupo DPOC foi o bisoprolol por conta da sua cardiosseletividade, porém o uso de BB cardiosseletivos no geral não apresentou diferença estatística entre os grupos. A maioria dos pacientes estavam no estágio B da doença pulmonar (41%), segundo a classificação do GOLD (Global Initiative Chronic Obstructive Lung).
Os pacientes com DPOC que usavam BB apresentavam condições clínicas associadas em maior proporção do que os pacientes que não usavam, como fração de ejeção de ventrículo esquerdo menor, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e sobrepeso. Porém, o grupo que não usava BB apresentou maior número de exacerbações respiratórias (58,8% x 38,8%, p=0,000).
Com relação aos broncodilatadores, observou-se maior utilização dos LABA (long-acting beta2 agonists), corticoides inalatórios e LAMA + SAMA (long acting antimuscaring agent short acting antimuscaring) nos pacientes que não usavam BB (p<0,05). Somente o indacaterol (ultra-LABA) foi mais utilizado nos pacientes em uso de BB (20,9% x 7,4%, p=0,003).
Os resultados da regressão logística demonstraram que o uso de BB não esteve associado à ocorrência de >2 exacerbações no ano (OR ajustado = 0,26; IC 95% (0,14-0,50); p=0,000) e exacerbações severas (OR ajustado = 0,27; IC 95% (0,15-0,50); p=0,000). Paciente no estágio GOLD D e algumas condições clínicas associadas, como diabetes, ICC e frequência cardíaca (FC) >70bpm foram variáveis que contribuíram significativamente para a ocorrência de exacerbações respiratórias.
Pensando que os BB representam um dos pilares do tratamento da ICC e que promovem efeito cronotrópico negativo, já que a FC elevada esteve relacionada com o número de exacerbações pulmonares, poderíamos pensar que o uso destes medicamentos apresenta um efeito protetor neste grupo de pacientes? Esta é uma questão que necessita de melhor avaliação por meio de ensaios clínicos controlados por exemplo, no entanto podemos afirmar com base neste estudo que o uso de BB em pacientes com DPOC, classe GOLD B, não esteve associado à piora da condição pulmonar.

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